sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Estudantes de Letras: o que (não) fazem?

Após umas discussões no fórum da comunidade do ENEL 2009 no Orkut, eu pensei: o que é que os estudantes de Letras fazem? Participando do tópico, eu até arrisquei umas respostas estúpidas... Mas, de repente (1), fiquei mastigando comigo mesmo e cheguei a um estudo teórico-prático - que levou, de resto, algumas horas de esforço quase nulo, e que arrisco publicar aqui.

O que (não) fazem os estudantes de Letras? Minha pergunta partiu exatamente das experiências teórico-práticas que tive antes de meu estudo (2). A gota d'água foi o comentário duma garota: "as pessoas de letras não fazem sexo". Como assim, não fazem sexo? E eu tratei de investigar o caso. Dividi os achados em duas seções: o que os (3) estudantes fazem e o que não fazem de jeito maneira. Espero dar uma contribuição significativa na bendita arte da falta do que fazer. Sugestões e críticas são bem-vindas.

1. O que fazem os estudantes de Letras?

Se a observação pressupõe a teoria, basicamente o que um estudante de Letras faz é ler e reler - embora não sempre, dependendo do que gostar ou não - tratados de lingüística e literatura. A partir daí, é exigido que o aluno parta para experiências práticas, a fim de comprovar se absorveu de fato o conteúdo ministrado. Pode continuar os estudos no mestrado e doutorado, e se for audaz poderá enriquecer a teoria e repetir o ciclo.

A parte lingüística, em geral, trata do uso corriqueiro da língua. Não tão corriqueiro, sei lá, mas não nos preocupemos com as definições do que seria "língua", "corriqueiro" e "uso", já que isso é aparar água com a peneira. Basicamente, noções de como, quando,onde e com quem usar a língua, variações lingüísticas, a começar pela própria língua. Isso parece redundante, mas a repetição nesse processo é fundamental, a fim de que o aluno tanto repasse essas informações adiante quanto as empregue na vida pessoal, evitando problemas mais ou menos sérios de comunicação. Algumas correntes: funcionalismo - ideal para quem tem interesse em empregados de repartições públicas; estruturalismo - para aqueles que desejam sentir a estrutura da coisa; formalismo - vão mais atrás de uma Maitê Proença ou um Antônio Fagundes, embora há quem prefira um Tião Macalé ou uma Brigitte Bardot (a atual, bem entendido); gerativismo - para aqueles que têm uma criatividade latente com a linguagem... De forma geral, a lingüística tem, à primeira vista, um contato maior com a prática, uma vez que são feitas pesquisas de campo a fim de corroborar ou corrigir a teoria; entre os instrumentos de trabalhos se incluem gravadores de som e filmadoras.

Já a literatura, em sua prática, precisa de um pouco menos; caneta e papel bastam. Obviamente, isso varia no tempo e no espaço - canetas-tinteiro, computador, pena, pergaminho, papel de pão (4)... Quanto à teoria, bom, a teoria é um tanto quanto variada, já que trabalha com produções literárias variadas que, por sua vez, têm motivos variados - o que não é ruim, antes oferece ao estudante de Letras uma gama vasta, estonteante mesmo, de perspectivas profissionais (5). A depender do gosto (6), podemos ler: Vatsyayana, que criou um tratado rico e ilustrado sobre os prazeres da vinda, ensinando inclusive como chupar a manga; a Teogonia e a Ilíada, com episódios da vida privada dos deuses, especialmente do modo como Zeus se metamorfoseava em cisne, touro ou chuva; Teresa filósofa, que já é, por assim dizer, auto-explicativo no título... Na contemporaneidade, Hilda Hilst narra as descobertas de uma garota de oito anos (7); J. G. Ballard descreveu experiências vertiginosas em atropelos automotivos (8); e Gibson fez questão de desmitificar o fato de que hackers vivem direto na frente de um computador (9). Sem mencionar a sabedoria popular, que manifesta seus ensinamentos em versos de boa (!!!) qualidade (10). Há ainda a divisão por escola literária: romantismo - para aqueles particularmente emotivos e anti-burgueses; realismo-naturalismo - que desejam oferecer um tratamento científico à coisa, descrevendo-a do modo como as pessoas realmente agem; simbolismo - procuram deixá-la um pouco colorida e sutil; arcadismo - ideal para quem gosta do mato, cachoeiras e charnecas; modernismo - o jeitinho brasileiro de arrumar uma identidade pra nossa literatura...

A pesquisa ainda se encontra em fase inicial, de forma que algumas dúvidas podem - e devem (senão perde a graça!) - permanecer. Mas falta responder à outra pergunta:

2. O que não fazem os estudantes de Letras?

Sexo. Nem em diferentes posições. Não furunfam. Não trocam fluidos corporais. Nada de material erótico. Não trepam e não fodem. Ao que parece, como uma garota cearense disse: é tudo literatura (11).

(1) É assim que a estupidez vem.

(2) Como diria Karl Popper: a observação pressupõe a teoria.

(3) Especialmente AS estudantes. Mas não permitamos que minha preferência afetiva atrapalhe.

(4) E nas condições impostas ao literato; taí Sade pra não me deixar mentir.

(5) Há por aí uma blogueira muito famosa, que ganhou uma grana braba após publicar contando como acabar com um relacionamento conjugal. Dizem que ela sabe surfar que é uma beleza.

(6) Tudo o que podemos fazer com ele é lamentar.

(7) O Caderno Rosa de Lori Lamby.

(8) Crash.

(9) Neuromancer.

(10) Como uma certa vez li, numa antologia organizada por Celso da Silveira (Glosa Glosarum): "A cabeça quando pinta/..." (epa!)

(11) Carolina Dutra, conhecida pela alcunha de Transgressora. Ela se esqueceu de mencionar a lingüística, mas deve ter sido um lapso momentâneo devido à inclinação dela pela arte literária.

4 comentários:

Carol Rabelo disse...

Só podia ser o Lázaro mesmo pra fazer esta resenha.Imagina se ele fosse de Letras! kkkkkkkk

De repente, Pagu! disse...

Simplesmente adorei!
Lázaro traduziu tudo que um estudante de Letras nunca (ou quase nunca) teve coragem de dizer!

De repente, Pagu! disse...

Só pra constar: o comentário aí acima é de minha autoria!rsrs

Abraço!=)

De repente, Pagu! disse...

LÍVIA!!!!rsrs

Baú de traças