segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Pink Floyd e Sailor Moon

Já tem tempo que isso aconteceu, mais ou menos três semanas. (Não estou confiando muito em minha memória sobre quando foi, mas que se lasque.) No Twitter, um de meus seguidores solta: "Pink Floyd no topo da minha playlist me faz menos viadinho?" Me lasquei de rir na hora. Ele: "Eu pergunto, né? Vai que..." Eu: "O que me faz perguntar: gostar de Sailor Moon me faz menos hétero?". Ele: "A menos que o sujeito tenha atração por lolitas... identificação na certa." Voltei a me lascar de rir.

Erotismo e sexualidade são um negócio tenso. Georges Bataille escreveu lá, nas primeiras páginas de O erotismo, que o erotismo é, "na consciência do homem, aquilo que põe o seu ser em questão" (p. 7 da tradução portuguesa). Não se trata apenas de parafilia, bacanal ou frigidez. A sexualidade, assim como o erotismo, dão muita mostra do ser humano enquanto indivíduo e enquanto membro de coletividades quaisquer (social, cultural, psicológica etc.). Prova disso foi a breve troca de 140 cpt - isto é, caracteres por tweet - que resumi acima.

Certas mostras da manifestação de ambos indicam, no entanto, irônica ou literalmente, a cristalização de um imaginário sexual e erótico mais ou menos demarcado. Pink Floyd estaria em grande parte, então, no gosto de indivíduos heterossexuais, e menos presente entre homossexuais; já Sailor Moon, um anime shoujo (para mulheres) seria associado a garotinhas frescas, e assim por diante. Ocorre, porém, que o próprio Sailor Moon fez sucesso entre o público masculino, e as músicas de Pink Floyd não se dirigem especificamente a um público heterossexual.

E, ainda assim, a cristalização dessas manifestações - no caso, associando um gosto musical ou audiovisual às preferências sexuais/eróticas - é compartilhada por um monte de gente. Não é à toa que ri das mensagens trocadas com ele. Ainda bem que ri, porque em grande parte do tempo não é o que acontece pelaí. Em Beautiful Boxer (Ekachai Uekrongtham, 2003), filme tailandês contando a vida do lutador de muai-thai transsexual Nong Thoom, há uma cena no fim do filme na qual um menino executa uma dança tradicional feminina, como o fazia o protagonista quando criança. Ele - ou melhor, ela, já que fez a mudança de sexo em 1999 - pede ao menino que pare com a dança, uma vez que não faz parte das práticas sociais relacionadas ao gênero masculino.

Talvez eu tenha misturado os jargões, as idéias, os gêneros... E, num certo sentido, é o que acaba acontecendo hoje em dia, mais do que nunca. É difícil demarcar o que é ser homem, mulher, gay ou lésbica, se se pretende tratar essa classificação em termos precisos; da mesma forma, não há como sair rotulando, atribuindo etiquetas de quem deve gostar de brincar de carro, de casinha, de bola de gude ou de médico. Dá pra gostar de Sailor Moon, Pink Floyd, de ambos - ou de nenhum. E aí? O que me faz ser quem sou? Só não é uma banda de rock progressivo nem um anime shoujo...

Um comentário:

anderson disse...

motorhead desepenha uma boa função partena.

Baú de traças