sábado, 20 de setembro de 2008

A vida é uma merda

Combino com minha amiga de encontrar ela pra botar as novidades em dia, ela se atrasa, fico sabendo do acidente com um irmão dela, as irmãs e mãe e amigas da família ansiosas, e eu besta sem saber o que fazer, e ela solta, após eu dar um abraço nela: "A vida é uma merda". Eu replico: "Conhece algo melhor?" "Não." "Então pronto."

O acidente foi rápido, fulminante e assustador. O irmão voltava pra casa de bicicleta, e uma moto vinha descendo veloz, indo de encontro a ele (não sei se ele se desviou de encontro a ela, se o piloto da moto se desgovernou); foi um sarapatel danado, ele foi socorrido em situação delicada pela SAMU, vomitando sangue e tal. Quando estou com os familiares esperando minha amiga, a mãe liga pra ter notícias do rebento: entrou em coma. Nada de cirurgia, e até o momento que escrevo isto não sei em que pé a coisa está.

Um pontos deve, no entanto, ser posto. O primeiro deles é o carpe diem de cada dia, e que negligenciamos com freqüência. Será que damos à vida o gosto que ela merece? Perguntando de outra forma, fazemos dela algo desejável e proveitoso? O fato é que, de alguma forma, minha amiga parece responder afirmativamente. Não é à toa que levei um susto com a declaração dela. A atitude do motoqueiro deve ter sido uma merda; a desatenção do irmão deve ter sido uma merda; o burburinho do povo curioso por saber o que houve, certamente, foi uma merda, já que muitos não fariam mais que deixar a atmosfera tensa e dificultar a tarefa de socorro. Por que, então, botar a culpa na vida?

É provável que eu esteja sendo um pouco duro. Claro, não foi meu irmão que voou e desmaiou, queda instantânea e vertiginosa; ela, então, teria o direito de se assustar e soltar, de supetão: "A vida é uma merda". Mas ainda teimo em reprovar a atitude dela (e, de quebra, atentar para a minha); já que ela não pode ir ao hospital e tocar no irmão e, milagrosamente, recobrar ele a saúde, um pouco de paciência e sangue-frio (1) serviriam de bálsamo para o ânimo abalado.

Fora da vida não há salvação.

Alguém discorda?

Então pronto.

(1) Se o sangue esfria, o sujeito é tachado de insensível. Mas se esquenta, dizem que ele é histérico. Mas talvez haja uma palavra melhor pra evitar essa (falsa) dicotomia: abnegação. Palavra bela para eventos nem tanto...

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Baú de traças