terça-feira, 16 de março de 2010

Quatorze de março: impressões de dezesseis sobre o dia quinze

Falsamente poético. O título, lógico: aqui neste blog quase não rola dessas coisas. Redondilha, alexandrino, tercetos, versos brancos; nem negros nem amarelos, pois que sou mestiço. Domingo agora, o dia nacional da poesia aqui no Brasil, eu em casa assistindo uns filmes e coçando o saco. Segunda, voltando à rotina indolente e preocupada, devido a uns golpes em meu orgulho de pesquisador de iniciação científica e à leitura maçante da Fenomenologia do Espírito de Hegel, mandarim dos infernos! Enquanto o orgulho não cria casca, tratei de matar aula (minha orientadora que não leia isso, senão vou pra cucuia)... pra conferir um bate-papo com a poetisa Neuza Pinheiro, na Escola de Música da UFRN. Bonita, já sessentona (cabei de descobrir no Google, para minha surpresa!), mas sempre conversadeira e convidativa: convidando o auditório a subir no palco e mandar seu recado. Daí uma amiga minha, estudante de Letras de lá e que tava na organização do evento, aproveitou pra dar um show à parte, com uma breve enxurrada de versos que me deixaram besta (nunca vi ela declamando com tanto gosto). Um veterano dela, violonista autodidata, dedilhando e se engasgando um pouco nas cordas; mas logrou arrancar elogios da platéia e da própria poetisa, que tem lá seu material musical. Inventei até de declamar uns versos que a convidada distribuiu, de um livro ainda por publicar (ela ganhou um prêmio literário uns anos atrás, os organizadores não cumpriram ainda com a obrigação de lançar 500 exemplares)...

Bastou, no entanto, um único verso para prender minha atenção e a memória daquele encontro. Na qualidade de estudante de filosofia, não podia deixar de interpretar - uma faca de dois gumes, logicamente, conforme provado por Jacques Derrida ao longo de sua obra. (Ai meu Deus, só de pensar que preciso ler aquele alemão de Iena, pra melhorar meus estudos de filosofia contemporânea - incluindo o próprio Derrida!). Os versos foram escritos como se segue:

raiz
é o riso da árvore

Pois bem: a raiz absorve os nutrientes brutos e simples da terra, para a nutrição da árvore, além de segurá-la, mantê-la rija, ereta e imponente. E qual terá sido a função do riso de Neuza Pinheiro senão a de prender e cativar o carinho dos alunos e professores ali? E a vontade, a gana? O mais importante é que, prendendo, terminava por dar bastante liberdade a quem quisesse acompanhá-la... Cabelos cheios, cacheados e tranqüilos como a fronde de uma árvore, sob a qual bem poderia ler uns versos, suprindo então minha deficiência de material poético. Espero que sirva pra alguma coisa (1).

(1) Decida aí o que vai servir pra quê. Tô com preguiça, vou jogar um pouco de xadrez e tentar ler Hegel.

Um comentário:

Anônimo disse...

Adoorei o post. Tu escreve bem pra caramba e por isso é uma delícia ler-te. Ah! E adorei principalmente o titulo .. queria ser criativa assim como vc..rsrs
Pelo jeito esse bate papo com Neuza Pinheiro foi muito bom mesmo, deixou-lhe até com uma atmosfera poética..huum.

Beijocas, bichinho!

Baú de traças