Meu professor de dança de salão está organizando uns bailes pra divulgar a salsa aqui em Natal, embora haja um repertório caprichado de zouk (e, em menor grau, de bachata). Os bailes acontecerão quinzenalmente no Astral Sucos, um bar na orla de Ponta Negra, em frente ao quiosque 12 (mais ou menos próximo ao Morro do Careca), das 18 às 22 horas, todo domingo. Dia 31 último foi o último baile, e estou ansioso para o próximo. (1)
Quem me conhece sabe que adoro dançar. Já fui mais solto uns anos atrás, mas balanço o corpo bastante sempre que me empolgo com a música e o ambiente. Deveria ter sido assim no baile em questão. No último baile teve mais gente, o que significa um ganho em termos de público; tava lindo mesmo de ver a galera bailando salsa e zouk. Mas o garotinho aqui ficou tão amuado no baile quanto elefante no picadeiro. Imaginem vocês que, ao final do baile, perguntei ao DJ se ainda iria rolar um pouco de bachata.
O cara botou uma canção no play, aí saí pra tirar uma garota. Na primeira tentativa, era uma conhecida; ela tava morta de vergonha e se recusou. Fiquei na minha. Daí consegui tirar uma pra dançar, mas antes disso ela fez uma careta - como quem REALMENTE gostaria que eu não a tirasse, e com vergonha pelas outras pessoas ao lado dela estarem rindo dela por dançar COMIGO. Fiquei intimidado, claro, mas a vontade de dançar era maior. Só que o pior aconteceu: tirei uma pra dançar, nada; outra pra dançar, nada; só a terceira que aceitou, e ainda assim precisei convencê-la de que poderia dançar a bachata tranqüilamente comigo, mesmo que não soubesse (quase) nada. Assim que acabei de dançar, me despedi do professor e disparei pra casa.
Dessas três últimas garotas, merece destaque a segunda. Já no primeiro baile tive um problema seríssimo: antes que a música terminasse, ela parou de dançar, soltou um "muito obrigada", largou minha mão e se sentou. Me estarreci na hora, basicamente; mas pouco a pouco cresceu em mim um sentimento indescritível de nojo. Ora, ela continou a dançar com outros caras, e todos eles tinham um nível maior que o meu.
No entanto, meu problema não é com eles - mesmo porque acredito que, sendo capaz de dançar e tendo o desejo de me aperfeiçoar, posso também melhorar minhas aptidões bailarescas. O que essa garota fez comigo é o supra-sumo não só de falta de etiqueta, mas de tremenda falta de respeito. Há quase cinco anos, fui ao primeiro baile de salão na vida, e lá se encontrava escrito com todas as letras que não seria admissível recusar que um cavalheiro tirasse a dama pra dançar. Me diverti bastante nesse dia. Infelizmente, não foi o que aconteceu neste domingo (e, como acabo de lembrar, provavelmente aconteceu também em algum baile que fui no projeto Comunidança, quando fazia mobilidade estudantil na UFRJ em 2009). E eu tenho um palpite pra isso.
Das atividades humanas, há algumas universais, como o riso, o sexo... (2) e a dança. Acredito eu, em minha leiguice no assunto, que em todas as práticas de dança no globo envolvem um elemento lúdico. A dança de salão, em especial, tem um poder tremendo de socialização, pois seu sucesso depende essencialmente do entrosamento entre o casal que dança. Esse entrosamento não depende do nível, mas da vontade mútua de ir pra pista de dança e se divertir. E aí que tá: a garota de que falo parece que não está indo lá pra se divertir, ou pelo menos não do mesmo modo que eu. Não acredito em diversão sujeita a critérios, ou melhor, critérios esdrúxulos, do tipo "só danço com caras fodões e que saibam me rodopiar e me exibir no salão, e que de repente queiram me pegar", "só danço com gente de minha academia ou conhecidos de alguém de lá".
Meu professor confirmou a existência desses critérios, principalmente este último. E isso me deixa puto da vida, porque é muita mesquinheza de quem recusa. Me deixa triste também, já que esse lado lúdico acaba parecendo que está de lado cada vez mais. Não pensem que estou sendo ingênuo, pois sei que nem todo mundo vai a um baile de salão exclusivamente pra se divertir. A dança de salão mexe mesmo com a libido, e já fiquei com mulheres apenas por dançar, sem nem trocar uma única palavra de paquera; nossos corpos falaram por si sós. No entanto, é de uma rudeza impressionante restringir ao outro a possibilidade de se divertir, por achar que ele não possa oferecer o que se deseja. Não creio que eu me torne um instrutor de dança, mas gostaria de ver um salão diferente, no qual estejam presentes pessoas com vontade de dançar, de se divertir e de proporcionar o que possuem de melhor. Será que estou exigindo demais daquela garota?
P.S.: segue o belíssimo poema de Ranyane Melo, escrito em parceria comigo. (Na verdade, ela enxertou umas frases que eu disse a ela, transformando-as em versos; mas se ela acredita que sou co-autor, quem sou eu pra dizer que tá errada?) (3)
(1) E aqui acaba a propaganda.
(2) Jura?
(3) Para refletir: seria ela então a co-autora desta postagem?
No entanto, meu problema não é com eles - mesmo porque acredito que, sendo capaz de dançar e tendo o desejo de me aperfeiçoar, posso também melhorar minhas aptidões bailarescas. O que essa garota fez comigo é o supra-sumo não só de falta de etiqueta, mas de tremenda falta de respeito. Há quase cinco anos, fui ao primeiro baile de salão na vida, e lá se encontrava escrito com todas as letras que não seria admissível recusar que um cavalheiro tirasse a dama pra dançar. Me diverti bastante nesse dia. Infelizmente, não foi o que aconteceu neste domingo (e, como acabo de lembrar, provavelmente aconteceu também em algum baile que fui no projeto Comunidança, quando fazia mobilidade estudantil na UFRJ em 2009). E eu tenho um palpite pra isso.
Das atividades humanas, há algumas universais, como o riso, o sexo... (2) e a dança. Acredito eu, em minha leiguice no assunto, que em todas as práticas de dança no globo envolvem um elemento lúdico. A dança de salão, em especial, tem um poder tremendo de socialização, pois seu sucesso depende essencialmente do entrosamento entre o casal que dança. Esse entrosamento não depende do nível, mas da vontade mútua de ir pra pista de dança e se divertir. E aí que tá: a garota de que falo parece que não está indo lá pra se divertir, ou pelo menos não do mesmo modo que eu. Não acredito em diversão sujeita a critérios, ou melhor, critérios esdrúxulos, do tipo "só danço com caras fodões e que saibam me rodopiar e me exibir no salão, e que de repente queiram me pegar", "só danço com gente de minha academia ou conhecidos de alguém de lá".
Meu professor confirmou a existência desses critérios, principalmente este último. E isso me deixa puto da vida, porque é muita mesquinheza de quem recusa. Me deixa triste também, já que esse lado lúdico acaba parecendo que está de lado cada vez mais. Não pensem que estou sendo ingênuo, pois sei que nem todo mundo vai a um baile de salão exclusivamente pra se divertir. A dança de salão mexe mesmo com a libido, e já fiquei com mulheres apenas por dançar, sem nem trocar uma única palavra de paquera; nossos corpos falaram por si sós. No entanto, é de uma rudeza impressionante restringir ao outro a possibilidade de se divertir, por achar que ele não possa oferecer o que se deseja. Não creio que eu me torne um instrutor de dança, mas gostaria de ver um salão diferente, no qual estejam presentes pessoas com vontade de dançar, de se divertir e de proporcionar o que possuem de melhor. Será que estou exigindo demais daquela garota?
P.S.: segue o belíssimo poema de Ranyane Melo, escrito em parceria comigo. (Na verdade, ela enxertou umas frases que eu disse a ela, transformando-as em versos; mas se ela acredita que sou co-autor, quem sou eu pra dizer que tá errada?) (3)
O Baile
São em dias como este
Que nos imagino
Como se estivéssemos indo
A um baile
E enquanto a música toca
Penso no calor do meu corpo
Juntinho ao seu
Penso na sincronia dos nossos corpos
Na sintonia dos afetos
Na sinergia dos pensamentos
Penso em tudo
Que deixamos pra depois.
São em dias como este
Que nos imagino
Como se estivéssemos indo
A um baile
E enquanto a música toca
Penso no calor do meu corpo
Juntinho ao seu
Penso na sincronia dos nossos corpos
Na sintonia dos afetos
Na sinergia dos pensamentos
Penso em tudo
Que deixamos pra depois.
(1) E aqui acaba a propaganda.
(2) Jura?
(3) Para refletir: seria ela então a co-autora desta postagem?
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