domingo, 11 de dezembro de 2011

As festas do setor II

Sexta-feira, programa da noite: matar um pouco da saudade do espaço de aulas na UFRN onde tive aula na graduação e ao qual devo retornar ano que vem, no mestrado. Enterro de semestre no setor II - enterro de preocupações, correria, estresse e picuinhas do semestre (e do ano inteiro). Ai, se sêsse! Mas estava mesmo tudo tranqüilo lá no CCHLA (a festa anteontem foi lá), um monte de gente, o reggae rolando devagarinho... Estava? Sinceramente, na primeira hora de festa tive a desagradável sensação de estar fora de sintonia. Já foi assim noutras festas do setor II, mas dessa vez foi diferente: rolou uma invasão em massa de pleibas, pimbas e pitboys. E sim, eu reclamo: não era desse jeito há três, quatro, seis, DEZ anos atrás. Saudosismo? Gosto de recordar o que me agrada, mas o contraste é enorme. E a entropia, cada vez maior.

Vejo no FB, esse parceiro de notícias e idéias pra meu blog, o comentário dum amigo meu:

"Falam, falam e falam que são 'letrados', 'intelectuais', 'pensadores' e que o setor II é a 'vanguarda musical' da UFRN, mas ontem, o que se viu, foi a reprodução da MESMA MERDA que acontece nos vilas-agonia da vida: a nova modinha da suingueira do II (funk - letras sem sentido que só fazem rimar), pagode, briga, gente armada ameaçando outros, playboys escutando 'música alternativa' com o porta-malas aberto........."

Não é a primeira vez que ele solta o verbo sobre as festas do setor II, mas desta vez o plano de fundo (a última festa) torna o comentário acima ainda mais brabo. Consideremos, então, três eixos de discussão:

1) O gosto musical. Meu amigo zoando com o funk não está em melhores condições ouvindo o Roupa Nova norte-americano - Bon Jovi. Merda por merda, ele escolhe a que ele quer ouvir, e eu a minha; mas não é disso que quero falar. Também não se trata de associar o gosto musical ao quebra-quebra que rolou na festa; como abstêmio convicto e freqüentador ocasional de farras natalenses, posso afirmar sem medo de errar que grande parte das confusões é por causa de dois instrumentos musicais: lata de alumínio e garrafa de vidro. Exceto pelo pagode - a primeira vez que ouço em quase seis anos de UFRN no setor II -, o resto da programação foi basicamente o mesmo: reggae e indie rock. Independente do repertório (que só "varia" com o forró no mês de junho), há muito que não vou às festas de lá pela música, mas pela vontade de encontrar pessoas.
Entre os comentários suscitados pela postagem, vi um que achei engraçado e plausível: MC Priguissa, a suingueira do setor II. Concordo em gênero, número e grau - o que não me impede de curtir o som dele, muito menos pelas letras do que pela batida das músicas. Dancei até o chão na festa, inclusive. Mas MC Priguissa e outras bandas natalenses, como DuSouto e SeuZé são sintomas de outro problema - o que nos conduz ao próximo eixo.

2) O elitismo intelectual. Falei de Priguissa, DuSouto e SeuZé no item acima não tanto por eles mesmos (não os conheço pessoalmente, aliás), mas pela galera que empina o nariz dizendo que quem não os escuta é porque não tem cultura. Devo ter um santo forte pra não me aproximar de alguém que profere uma pérola dessa, embora já tenha sido censurado por não gostar de bandas como Boca Seca (é o único exemplo que me veio à mente agora). Não gosto das letras, não gosto da batida e pronto. Mas me diga que não tenho cultura e eu sorrio pra sua cara. Continue a me dizer que não tenho cultura e eu enfezo com sua cara. 
A pimbaiada, pelo visto, está aumentando a área de atuação e a presença nesses eventos. Eles juram mesmo que são a elite intelectual da UFRN. Então tá, né... Se você é pimba e está lendo este texto agora, e se acha Amy Winehouse, Strokes e Tulipa Ruiz o máximo, e recrimina a galera das engenharias pelo pagodão (escolha outro bode expiatório se este não for o mais adequado), e se acha elitizado pelos livros, filmes e festas que consome, e ainda assim se acha a elite intelectual da UFRN (ou dos cafundós-do-judas), faça um pequeno esforço: vai encontrar nela (na galera) seu espelho mais perfeito (1).

3) O quebra-quebra. Em meados de 2007, o setor II sofreu um vandalismo tenso durante uma das festas, o que motivou a proibição de outras festas por tempo indeterminado pelo então diretor do CCHLA, Márcio Valença. Após alguns meses, as festas voltaram, e a coisa continuou relativamente calma (às vezes morgada, inclusive) até o início deste ano, quando um bando de pleibas e pitboys bateu o ponto lá. Tinha segurança armada, mas o segurança pouco fez pra acabar com o tumulto, felizmente (?) mais disperso. Mas na sexta última, foi pior: não tinha segurança nenhum por perto, e a quantidade de envolvidos era bem maior (uns dez ou quinze, pelo que minha visão apanhou por alto); rolou garrafada na cabeça; um dos caras foi derrubado por outro, que lhe aplicou uma chave pelas costas, e outros sentaram a porrada em cima... 

Saudosismo? Senti um pouco de falta do setor II este ano, por não estar cursando nada. Agora, se os próximos dois anos no mestrado perderem qualidade por causa desses itens acima (em especial os dois últimos), tô lascado...



(1) Há uma tendência generalizada entre os pimbas em usarem o adjetivo "perfeito" quando se referem a algo que curtem muito, aponta estudo.

Um comentário:

Trópicos Neurais disse...

é man, concordo com vc, realmente é a mesma merda que rola por todos os cantos nesse mundo perdido de bosta, aonde a entropia se torna cada vez maior. Quanto a pimbaiagem, tbm ficamos sujeitos a esses comentários imbecis e julgamentos preconceituosos que como fezes infestam todos os lugares... pra mudar essa cultura é uma tarefa mto dificil, mas nós devemos ser a mudança que desejamos no mundo, to cansado tbm dessa realidade de espelhos aonde as aparências contam mais que as intenções, cansado de ver as pessoas colocarem seu dinheiro e interesses em pedestais pra poder gozar de seus proprios egos corrompidos.

é uma fudição só, tbm tenho saudades do até pouco que vivi, mas bola pra frente isso so se muda se agente promover positividade
vlw abraaço!

Baú de traças