domingo, 6 de julho de 2008

O arco da existência

Ora, vejamos só que coisa... Vou visitar um amigo meu, a gente conversa besteira, assiste algumas cenas d'As mil e uma noites, vou pra casa, assisto Dança comigo? e, quando acabo, olho pela janela e o que vejo? Um arco-íris!

Mas sábado último só o que teve foi arco. Primeiro, o figura do primeiro filme, esticando um arco prestes a atirar uma flecha nitidamente fálica (sic) na genitália da parceira. O arco do desejo, da libido humana, para cuja satisfação amiúde nos curvamos e fazemos curvar, quaisquer que sejam os custos e as conseqüências. Enquanto assistia mais meu amigo, ele comentava o que fazer na cama: jeitos, trejeitos, a paciência e criatividade sempre presentes, não para a explosão orgásmica, mas para o tão delicado processo de deliciar uma mulher. E, enquanto ele divagava, estava eu retorcendo meus pensamentos para o XXIX ENEL, que está pra acontecer daqui a alguns dias em Belém; conciliar o aspecto acadêmico com o amoroso não será tão fácil. Ele ainda me mostrou umas cenas de Dança comigo? e me emprestou pra meditar.

O tema do desejo continuava. Richard Gere todo robô na hora de dançar rumba. Mas foi por um desejo estranho, nebuloso, que ele entrou na academia de Mitzi. No começo o clichê hollywoodiano da mulher bonitona e do homem charmoso, mas no desenrolar da trama percebemos que é a própria vida que está em jogo. Ambos curvaram o desejo devido às frustrações e dúvidas da vida, e viram na dança a válvula de escape. Aquele tango tentador, e a valsa tão lânguida... O problem, no entanto, era que a vida de ambos - Paulina e John Clark - estava um bagaço; ele preso nas malhas da rotina, ela na tortura emocional pela perda do amante e companheiro de trabalho. No fim, parece que todo mundo aprendeu a lição: nada de deixar a vida murchar.

E eu, de volta para a sala onde assistia, desligando o DVD, observando o trabalho dos pedreiros em casa, e voltando para a janela da sala... Lá longe, decomposto por um monte de gotículas d'água suspensas no ar, o feixe branco de matizes sutis. Que coisa engraçada: comecei logo a recordar aquelas histórias de anão, do prisma de Newton, do movimento GLBT. Torto das pequenas peripécias diárias, vou não sei aonde - tantos caminhos sinuosos pra trilhar! -, ansioso pelo que me aguarda lá fora. Se não dá pra viver sem me retesar, que eu seja como um bambu: não quebra com a fúria da existência...

Nenhum comentário:

Baú de traças