sábado, 9 de agosto de 2008

Faturando com a birita (1)

Ora, fuço o Orkut e vejo uma notícia interessante: acréscimo de 30% nas alíquotas das bebidas alcóolicas no Brasil, exceto a cerveja (2). Refrigerantes vão sofrer aumento também, mas isso é outra história.

Num sábado pela manhã (09 de agosto último), num curso de extensão de filosofia na Livraria Paulus, a bola da vez foram as drogas. Por que o ser humano usa elas? Qual o impacto delas na vida contemporânea, particularmente nas relações de poder, tão importantes quanto perversas?

Obviamente, o uso não é nada novo; chás de cogumelo, ayahuasca, peyotl e um cachimbinho fazem parte do cotidiano religioso ainda hoje, e em vários pontos do planeta. Abrir a mente mais rápido e entrar em sintonia com algo mais, e trazer algo de bom pra vida: essa era a proposta. Cada vez mais veloz as mentes (e bocas, e braços, e outros orifícios do corpo) se abrem hoje, e sempre algo mais pra sintonizar; mas que é que traz de bom? Ou melhor, é tão melhor que se fosse sem ela? Me refiro a qualquer coisa: a paquera que não decola, o poema que não mela o papel, a música surda no torpor criativo...

Deixem-me ser bastante direto e veemente quanto ao tópico da bebida (e do tabaco, do THC, do LSD, do que o engenho humano possa inventar): neste terceiro milênio, quanto mais cedo nos livrarmos deles, tanto ótimo será. Há outras vias de se chegar aos mesmos objetivos, sejam eles quais forem (3). Supondo que o leitor não cometa grandes exageros e queira viver um pouco mais que a média (mesmo que seja pra ver a ineficácia desta postagem), examino agora alguns motivos para não consumir drogas:

  1. Não vai ser para sempre que o corpo vai reagir legal a elas, seja numa pista de atletismo ou no quarto de motel;
  2. Não vai ser para sempre que As Portas da Percepção vão sair do punho de um Huxley - aliás, Hemingway queimou os neurônios de tanto álcool, e Raul Seixas poderia ter vivido um pouco mais e cantado mais se se livrasse dele; por pouco algo semelhante não ocorre a Ray Charles, que largou a heroína;
  3. Dinheiro não cai do céu, por isso não vale a pena gastar 200 contos com um grama de farinha, e até agora o investimento em clínicas de recuperação não tem sido de grande ajuda - aliás, de ropinol em ropinol os internos ficam mais atolados ainda na desgraça. Isso é particularmente verdadeiro pra hospitais psiquiátricos (4);
  4. Pode ser que, eventualmente, o barato compense defeitos como timidez ou burrice. Numa rave, entretanto, basta uma balinha a mais pra nego morrer mais convulsivo que um epiléptico, enquanto os demais riem de sua tragédia;
  5. Não, eu não quero tornar realidade certos ditos populares, como aconteceu um tempo atrás no Distrito Federal (5)...
Uma última coisa: assim que eu saí duma conferência sobre Demócrito, encontro um bicho do curso de filosofia caído perto da porta do auditório de filosofia aqui da UFRN. E então, todo aquele papo do pré-socrático sobre a justa medida - encontrando ecos na autarkheia de Epicuro, o domínio de si mesmo -, que justificaria até um consumo moderado dessas coisas, achava franco oposto naquele homem de roupa surrada, dreadlocks e uma garrafa com cachaça, estirado no chão... Quem fatura com birita é o dono da Pitu, mas eu é que não vou colaborar com isso!

(1) Uma deixa pra falar de outras coisas.
(2) Por quê? Porque é sagrada?
(3) Hitler financiou uma pesquisa contra o câncer e organizou uma campanha para maximizar a potência do Reich, proibindo consumo de cigarro e estimulando os soldados a beber água mineral. Embora a abstinência não tenha qualquer relação estrita com a sanidade mental, não vejo porque não defendê-la, despotencializando outras sandices humanas.
(4) Foi o que aconteceu com Austregésilo Carrano, que teve sua trajetória narrada no livro Canto dos Malditos, adaptado para o cinema como Bicho de Sete Cabeças.
(5) Tipo assim:

Um comentário:

Giuliano Gimenez disse...

por aqui passarei com mais frequencia, melhor, navegarei

Baú de traças