segunda-feira, 1 de junho de 2009

Na aula de samba

Quando se conversa com uma mulher, devemos evitar perguntar três tipos de coisas: sua idade, seu peso e seu ciclo menstrual. Qualquer curiosidade fora de hora ou proposital é singularmente perigosa, já que, depois de milênios de condicionamento social e maneirismos adquiridos, continua baixa a probabilidade de o rumo dos acontecimentos sofrer uma transformação, por pífia que seja. Por exemplo: freqüentemente, quando inquirida sobre sua idade, a mulher sempre vai se sentir muito velha ou muito nova, ficando assim grilada com o que seu interlocutor venha a deduzir daí; se o assunto for peso, também vai haver a falta de segurança, e a queridinha vai reclamar do excesso ou falta (normalmente do primeiro); se, enfim, for o caso do ciclo menstrual, não acho absurdo que uma garota meio paranóica venha a pensar que seu namorado, amigo, pai etc. pensa que ela é um pântano ambulante. (Quando se tratar de mulheres fora do período fértil, o temor se deslocará para o extremo oposto - um pedaço de carne seca e ressecada.)
Mas que vacilo, hem, caro Lázaro? (Sim, Lázaro Barbosa, o dono deste blog e que me convidou para colaborar.) O homem me conta um episódio meio desagradável que lhe ocorreu durante a aula de samba de gafieira, na UFRJ. Durante uma aula cheia de gracejos - da parte dele, claro -, o monitor disseca um dos passos, explicando passo a passo como executá-lo. Pede às damas que, na hora de executar o giro - um de tantos possíveis, daquele que o cavalheiro tira a dama no impulso e a gira, empurrando-a pela anca -, mostrem a anca para o cavalheiro. Primeiro de tudo: "mostrar" a anca?! Fica parecendo que, na hora do baile, a dama vai mostrar a marquinha de biquíni (daqueles fio-dental, com as asas chegando aos peitos dela) para o cavalheiro. Não seria melhor "levantar" ou "aproximar" a anca ao cavalheiro, pra melhorar o contato e a performance do passo? Talvez seja mais comprida e até esquisita, mas pelo menos não deixa muita margem a ambigüidades.
Pois bem: foi por conta de um gracejo seu (reconheço que ele tem umas tiradas interessantes num bate-papo, mas nada que se compare a mim; só que isso não vem à discussão) que um dos pontos mencionados no primeiro parágrafo havia sido negligenciado. Quando o monitor pergunta aos cavalheiros se estão sentindo o osso da anca de suas damas, o efebo se sai com essa: "Só carne." Os outros alunos (não alunas, por motivos que dispensam explicação) acharam a maior graça, e ele próprio soltou um riso estridente por alguns segundos até aquietar o facho e notar que sua parceira não gostou nem um pingo, embora não soubesse se ria ou se lhe soltava um esporro. Perguntei a ele se tentou desconversar; respondeu que disse que isso não era ruim, embora notasse que um advérbio cairia bem - não era necessariamente ruim. Talvez não melhorasse muito, pois, comentando o incidente com um cara e uma mulher da turma, percebeu que o incidente foi muito Luluzinha e Bolinha: se o cara concordava com ele, também era certo que a garota compartilhava da desaprovação da parceira de Lázaro. Coitado, o vacilão se sentiu mal quando estava na van, a caminho das aulas de filosofia...
Eu, por minha parte, não me abalaria tanto. É claro que ele pode haver feito merda por soltar aquela pra uma menina que não tem lá grande intimidade. Porém, será que seria muito diferente se ela fosse uma amiga próxima? Pessoalmente, tenho certa dificuldade em entender esses chiliques femininos quanto a idade, peso e ciclo menstrual. Tá bom, reconheço que um homem que pergunte sobre as regras de uma mulher meio fora de hora pode passar por coprófilo; agora, pra que diabos elas se agoniam todas quando nós homens lhes fazemos uma pergunta tão simples? É possível que a coisa pareça meio fora de contexto, como se tivéssemos sempre a vontade de saber quanto uma mulher pesa, sua idade ou a senha da conta do banco; deve ser o verbo que está errado. O problema, então, não é entender; isso já faço bem demais, com a mente que meu Deus me deu. Seria, isso sim, o caso de aceitar tais discrepâncias entre os sexos. Aí que tá. Quem me convence a engolir esse sapo? Não é mole. Fico pensando se essas garotas, na roda de samba (seja de gafieira ou samba duro), não atentam para a origem do termo. Preferem, sim, incomodar-se com o conteúdo ou o motivo de um cara mandar uma piadinha sem graça - mas nem ligam se samba, que vem do bantu semba e significa umbigada, é mais sacana...

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