sábado, 26 de março de 2011

Cidade Baixa

Cidade Baixa (Sérgio Machado, 2005) é um filme carnal. Promíscuo, sangrento, imundo e viscoso. Mas é um filme vivo, de uma vida que ninguém sonha ver quando vai a Salvador – os bastidores da Cidade Baixa, dominados pela prostituição, drogas e crime. Dominado ainda pelos desejos latentes, impulsivos e paradoxais do ser humano, centralizados no trio amoroso Deco (Wagner Moura), Naldinho (Lázaro Ramos) e Karina (Alice Braga), mas também presentes nos demais personagens.

É engano pensar que se trata apenas da briga por buceta; teoricamente, por sua condição de prostituta, Karina poderia muito bem dispensar os dois, pelas brigas e picuinhas que se desenham ao longo do filme. Mas ela se mantém apegada a ambos e equilibra precariamente o fiel da balança, trepando e dando a cada um deles um pouco de afeto. A grande prova disso é a briga no final da trama (nada como ter Fátima Toledo na preparação de elenco!); Deco e Naldinho se esmurram, chutam e caem nas vielas da Cidade Baixa, num acesso de fúria, ciúme e, eventualmente, tristeza. Eu mesmo fiquei aterrado com o momento em que Naldinho termina de desferir socos em seu amigo de infância e o olha fixamente, como quem não gostaria absolutamente de fazer aquilo – mas que fez assim mesmo, a despeito de qualquer proibição afetiva que uma amizade de longos anos poderia impor. Logo após a briga, é a Karina que recorrem; a garota de programa limpa os ferimentos dos dois amantes, sem dar um piu pela confusão (exceto na hora em que Naldinho chega no apartamento após Deco, quando ela pede que aquele se sente e espere). Antes dos créditos finais, ela não agüenta e solta as lágrimas, desolada pelos limites que os rapazes interditaram ao desejo (1); por que se decidir por um, quando pode perfeitamente acolher ambos?


Há outras seqüências dignas de atenção, como a briga de galo no início da trama e os minúsculos episódios cotidianos da Cidade Baixa. Mas como não se trata de um resumo do filme, melhor ir procurar um torrent, Rapidshare ou o share de sua preferência. Só sei que gostei e que vale a pena ver.

(1) Por isso que não gosto de fazer crítica de cinema. O cara cita Freud/Lacan pra passar por cult, mas que se lasque: isto aqui não é uma crítica, é só um registro de impressões.

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Baú de traças