domingo, 25 de setembro de 2011

Quebrando a tradição

De bobeira no Facebook, vejo uma amiga postando uma mensagem, segundo a qual homem que não paparica mulher não merece mulher nenhuma. No mesmo local ou em outro - não lembro ao certo, e aparentemente ela apagou os comentários do mural - também postou acerca de uma postura anti-tradicionalista da mulher atual. Pelo que ela disse, não importaria se o companheiro de uma tal mulher anti-tradicionalista pegasse outras mulheres, desde que a dita cuja se sentisse a toda boa (1). Desde que ela tivesse os peitos mais carnudos, a xereca mais suculenta e rebolasse melhor no pau dele, não havia problema...

Voltemos um pouco ao início desta postagem. Disse ela que homem que não paparica mulher não merece mulher nenhuma. Disse ainda que não há ciuminho que não resista a um paparico bem feito. Como indivíduo bastante ocupado em meditar os descaminhos na relação homem-mulher, soltei: tô fodido. E ela ajuntou: tá fodido mermo. É, mulherada, vocês são meu phármakon, juntamente com a música e a Internet; mas fazer agradinho pra aplacar ciúme de vocês, definitivamente, está fora de meus preceitos afetivos. Aí eu coço a cabeça e racionalizo: pois é, né? Vocês marcaram um ponto.

Continuando a racionalizar, me lembrei: por que diabos eu estaria fodido? Teria eu necessidade tão premente da companhia, chamego e carinho de espécimes do sexo feminino? E neste momento (isto é, agoríssima, enquanto escrevo este parágrafo) recordo o trecho de uma música de Falcão, que bebeu da sabedoria popular: "melhor comer doce de leite com os amigos que merda sozinho". Não lembro o que comentei na hora (por que você apagou a mensagem de seu mural, gatinha?), mas certamente estava cagando e andando pra esse problema. E ela, matreira que é, me sacaneou ainda mais, sentenciando-me aos prazeres manuais. Anotem aí, anti-tradicionalistas: segundo ponto no placar.

Mas não parei. Meu juízo tem o hábito de funcionar como um caracol: devagar e sempre. Voltei ao comentário inicial dela. Me foquei no significado da palavra "tradição" e, imediatamente, notei algo de errado na quebra de tradição que minha amiga e tantas outras mulheres por aí acreditam fazer. Pois, por TRADIÇÃO, os cafajestes já o fazem há milênios. Desde antes de eu me entender por gente que os homens praticam e/ou disseminam o supremo ideal de manter uma parceira fixa e, quando necessário (segundo critérios pessoais, naturalmente), sair à procura de uma trepadinha ligeirinha. Em bom português: cavalo amarrado também pasta. Questiono então essa atitude anti-tradicionalista de minha digníssima e uma amiga dela responde que não se trata de pôr a cafajestice em questão, mas de TOLERAR essa prática. De assegurar às mulheres o direito de serem felizes com um  par de chifres na cabeça. E, nesse momento lindo, o marcador anota dois pontos pra mim. O primeiro foi quando notei a estranheza no anti-tradicionalismo, o segundo vindo de brinde quando a garota mordeu os próprios dedos (2).

Dois a dois, né? Placar empatado, a noite ficaria por isso mesmo... Já estava satisfeito com as risadas proporcionadas pela estupidez do raciocínio dela (3). Socializei essas mesmas impressões pelo Twitter uns dias atrás, nutrido pela vontade humana de me fazer digno de atenção. Pois não foi que um conhecido meu tocou no nó górdio? Pura e cristalina como a água, sua mensagem diz: "anti-tradicionalista mesmo seria se essas mulheres nem fizessem questão de ser ou não "a mais importante". coisa [sic] mais competitiva". Anote aí o terceiro ponto!

Alguns minutos depois, no perfil de outra amiga, vejo uma notícia incrível: aqui no interior do RN, um cara já vive há mais de quarenta anos com a esposa, a sogra e a cunhada, com as quais teve trinta e três filhos (além de outros dezessete do primeiro casamento). Dizem elas que não brigam entre si, que ele gosta das três por igual - mas que não suportariam descobrir uma amante. Esta última informação acaba de me deixar menos eufórico (por causa do ciúme), mas uma coisa é certa: poliamor não é o tipo de relacionamento que se encontra fácil. Menos fácil ainda de se achar é a ausência de conflitos, picuinhas e desconfianças entre os casais.

Portanto, querida amiga (e quem mais que seja), perceba que não há nenhuma tradição sendo quebrada; nem mesmo seu Luiz o fez. Gostaria de finalizar citando Russell a respeito do amor livre, comentar que ele até criou uma escola pra botar seus ideais em prática, sem sucesso - mas tenho medo de morder meus dedos. No dia em que alguém deixar de encarar o amor como competição, me avise. Trato logo de comprar a passagem e encontrar pra bater um papo.

(1) Tive a felicidade de copiar a frase e divulgar no Twitter: "Seja o que quiser, faça o que quiser e com quem quiser... desde que me prove todos os dias que sou a mais importante".

(2) Primeira forma encontrada na Internet de contradizer a si mesmo. No mundo virtual, a escrita é que precede a fala.

(3) Trato de esclarecer: ela é uma garota gostosa, inteligente e canhota. Mas isso não a impede (nem ninguém) de dizer umas besteiras de vez em quando. Talvez por isso ela tenha apagado as mensagens. Dependendo do caso, EU apagaria.

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Baú de traças